Com curadoria de Luis Sandes, a exposição Inefável-Ultrafino apresenta cerca de 30 obras da artista em sua primeira individual em São Paulo
Renata Haar cursou Artes Plásticas na Faap e seguiu seus estudos na Escola de Belas Artes de Paris, com o professor e artista francês Christian Boltanski
O Museu de Arte Brasileira da Faap inaugura, no dia 8 de março, sexta-feira, a partir de 10h, a exposição Inefável-Ultrafino, da artista brasileira Renata Haar. A mostra integra o projeto Mezanino Aberto, que traz exposições de jovens artistas formados pela FAAP ou professores que fizeram parte da instituição. A artista apresenta- pela primeira vez em São Paulo-, cerca de 30 obras, entre vídeos, gravuras, desenhos em papel e objetos tridimensionais.
Ao entrar na faculdade de Artes Plásticas na Faap, Renata pode desenvolver suas habilidades e descobriu sua vocação. “A Faap traz uma formação muito interessante porque aprendemos todas as mídias como desenho, pintura, gravura, cerâmica. Para mim foi muito transformador desenvolver essa subjetividade”, conta a artista. No curso, ela pode extrapolar os formatos e linguagens. “Ali pude experimentar, e foi ficando muito claro que não tinha o desejo de me especializar em uma mídia, mas aprofundar o sentido delas na minha linguagem”, conta.
No 3º ano, Haar descobriu que haveria a possibilidade de fazer um intercâmbio com bolsa em Paris. Seguiu para a capital francesa para estudar na Escola de Belas Artes. Lá ela pode estudar com artistas como os escultores Jean Luc Vilmouth e Vicent Barré, e com um dos mais proeminentes artistas contemporâneos, o francês Christian Boltanski, com quem desenvolveu também o mestrado. “Ele foi muito importante para mim. Não apenas no fazer artístico, mas no aprendizado da responsabilidade com o trabalho, na ética, no comportamento, e em pensar que tipo de imagem você vai colocar no mundo, em como vai afetar as pessoas”, conta a artista.
A influência de Boltanski, artista de origem judaica, também se deu no âmbito pessoal. Filha de pai judeu e mãe católica, ela buscou traçar histórias da família. “Ele também me nutriu muito de literatura e da busca pelas histórias de família, de perseguição e elaboração da morte. Questões como identidade e desaparecimento são bem importantes na minha obra”, afirma.
O ‘ultrafino’ na obra da artista
Segundo o curador Luis Sandes, “o ultrafino pode, num certo sentido, ser entendido como algo da ordem do inefável ou também do transcendental. A exposição concentra obras em diversos suportes de Renata Haar que evidenciam sua relação com as pequenas percepções, o inefável e o transcendental. A artista abre espaço ou coloca em foco ações, gestos e seres que, antes, passavam despercebidos de nossos sentidos”, afirma.
A sutileza dos traços, a maioria feitos em papel, são características da artista. “Eu gosto de brincar com limites e definições”, conta. “O material onipresente na minha obra é o papel. Eu coleciono papeis e gosto de intervir neles. Esse contato permite também um atrito, e é uma linguagem muito diferente da pintura”. Há também questões sobre temporalidade e desaparecimento ao usar o papel como principal material em suas obras.
Destaques da exposição
Um dos trabalhos de destaque é a série Leis da Eternidade, com desenhos inacabados amassados em gesso que se transformam em esculturas. “Esses objetos são feitos a partir de desenhos falhados ou que, noutras palavras, “deram errado” e não assumem o status de obra para a artista. Ela amassa esses desenhos em papel e adiciona a eles gesso, criando espécies de pedras”, conta o curador.
Há também litografias sobre papel, como é o caso de Espiral 2 e Ruído branco sobre grama, ambas criadas em 2022. As obras presentes na exposição foram feitas entre 2020 até os dias atuais. Entre os desenhos, estão Dentro de algum lugar (2021), Noite (2021), Em algum lugar da queda de Ícaro II (2022), Equilíbrio (2023), Algumas coisas (2022), Poça azul (2022), Sonar pela de maçã, (2023), Em algum momento da queda de Ícaro 3 (2023).
Trabalho inédito em parceria com Caio Haar
Um dos trabalhos inéditos apresentados na exposição é o vídeo Barco, feito em colaboração com o irmão da artista, Caio Haar, que funciona como eixo central da exposição. Além deste, haverá outro vídeo inédito, Sem título 2014, um site specific projetado no verso do portal de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que ocupa o mezanino do MAB.
Mezanino Aberto
Mezanino Aberto é um programa do MAB FAAP que busca prestigiar artistas formados pela FAAP, professores ou pessoas que fizeram parte da história da instituição, como os ex-professores, dando a oportunidade de mostrar suas obras ao público. Além do espaço para exposição, o artista selecionado tem uma verba para produção, equipe para montagem, identidade visual, orientador de público, entre outros apoios. O primeiro a ser contemplado pelo programa foi o artista Paulo Almeida, que apresentou em 2021 a instalação Da Coleção: 1961 – 2021. Já em 2022, o artista Laerte Ramos foi selecionado com o projeto Sobre Rodas. A artista Isis Gasparini apresentou Desenredo em 2023, e a exposição Inefável-Ultrafino, de Renata Haar, foi o projeto vencedor de 2024.
Sobre Renata Haar
Nascida em São Paulo, em 1981, Renata Haar estudou Artes Plásticas na Faap, entre 2022 e 2005. Integrou um programa de intercâmbio da universidade e se mudou para a França para estudar na Escola de Belas Artes (École des Beaux-Arts de Paris), onde concluiu sua graduação. Na mesma instituição, finalizou o mestrado tendo como orientador o artista Christian Boltanski (1944-2021). Logo após a temporada na França, morou em Berlim por sete anos, desenvolvendo projetos de coletivos artísticos e ajudando na formação da residência Affect, entre outras atividades. Já expôs individualmente em Paris, Berlim, Basel e Rio de Janeiro, e em mostras coletivas em São Paulo, Bahia, Bulgária, Berlim e Paris.
Seu trabalho foi indicado para o Prix Keskar (2011) e o Prêmio Cifo (2018/19). Suas obras fazem parte de coleções privadas e públicas como o Instituto Figueiredo Ferraz (Brasil) e Collete Tornier (Residence Saint-Ange). Renata também integrou o coletivo de arte Agora (2011-2019) quando morava em Berlim, com quem se apresentou no Museu Alimentarium, Vevey, Suíça (2018), Instituto Cervantes, Berlim, Alemanha (2014) e Kunsthalle Osnabrücke, Alemanha (2017), entre outros.
Mini bio Luis Sandes (curador)
Pesquisador, curador e historiador da arte. Doutorando em História da Arte pela USP, com pesquisa que relaciona a arte contemporânea brasileira ao concretismo paulista. Mestre em Sociologia da Arte pela PUC-SP, com pesquisa sobre o concretismo paulista. Escreveu em publicações brasileiras e estrangeiras. Curou exposições, no Brasil e no exterior. Escreve para enciclopédias inglesa e brasileira.
Sobre o MAB FAAP
Desde que abriu suas portas pela primeira vez em 10 de agosto de 1961, com a mostra “Barroco no Brasil”, o Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) se comprometeu a incentivar e divulgar a arte brasileira. Além de seu acervo próprio que conta com mais de 3 mil obras de arte a partir do final do século 19, no decorrer dos últimos anos, abrigou exposições marcantes para a história da cultura do País, como a exposição “Toyota – O Ritmo do Espaço” premiada pela APCA em 2018. Em 2016, foi criada a Coleção Moda-MAB que reúne vestimentas, bonecas e acessórios de estilistas contemporâneos brasileiros, fortalecendo o vínculo entre o museu e a moda, que desde 1989 esteve presente por meio de desfiles e exposições vinculadas ao tema. Cabe destacar que além da pesquisa e organização de exposições de temas pertinentes às artes visuais brasileiras, o MAB incorporou a apresentação de mostras de arte internacional com temáticas de interesse geral que trazem experiências significativas ao público e ampliam a compreensão do fazer artístico e cultural.
Serviço
Abertura da exposição Inefável-Ultrafino, de Renata Haar
Dia 7 de março, quinta-feira, 19h (para convidados)
Dia 8 de março, sexta-feira, 10h (abertura para público)
Curadoria: Luis Sandes
Período expositivo: 08 de março a 28 de abril de 2024
MAB FAAP
Endereço: Rua Alagoas, 903 – Higienópolis
Horário de funcionamento: todos os dias, exceto às terças-feiras (fechado, mesmo aos feriados). Funcionamento das 10h às 18h, com última entrada às 17h30
Entrada gratuita
Patrocínio: Savin Paiva Advogados, Particolare Gelateria.
Apoio: EME Arte Cultural