Arte e Cultura

Por dentro da ArPa Feira de Arte: um mapeamento das galerias e seus destaques

De 28 de maio a 1º de junho, a Mercado Livre Arena Pacaembu, em São Paulo, sedia a 4ª edição da ArPa Feira de Arte, que consolida seu lugar entre os principais eventos de arte contemporânea da América Latina. Em 2025, a feira expande seu espaço para o Ginásio Poliesportivo Mercado Livre. A edição reúne mais de 100 artistas, cerca de 60 galerias, com estreias de espaços internacionais como Constitución (Argentina) e OMR (México) e representantes de 14 países, em uma programação que valoriza o mercado e a reflexão crítica sobre a produção artística atual.

Organizada em três eixos curatoriais – Setor Principal (com produções inéditas do cenário nacional e internacional), Setor Base (intersecciona projetos expositivos e  conversas com foca em artistas que tem uma prática pedagógica) e Setor UNI (curado por Ana Sokoloff com projetos individuais de artistas globais) —, a ArPa 2025 destaca-se pelo equilíbrio entre as demandas do mercado e a experimentação artística. O evento reforça seu compromisso com a diversidade ao apresentar cerca de 50% de artistas e galerias lideradas por mulheres, além de iniciativas como o Selo Mandacaru, que premia obras de artistas fora do eixo Rio-São Paulo ou que residam na periferia dessas cidades.

Destaques desta edição incluem a Pesquisa ArPa 2025, estudo inédito a ser lançado durante a feira sobre o mercado de arte contemporânea. Outro destaque é a parceria como a doação da MOS para a Pinacoteca, em que a MOS adquirirá uma obra de um artista ainda não representado no acervo do museu e fará a doação à instituição.

Com curadorias que vão da geometria latino-americana à arte interespecífica, a ArPa consolida-se como plataforma de descoberta de talentos e fortalecimento de redes colaborativas.

Conheça abaixo as galerias participantes e os projetos especiais que trarão para a 4ª edição da ArPa Feira de Arte.

Galerias e artistas na 4ª edição da ArPa Feira de Arte

Setor UNI

Casas Riegner (Colômbia)
Apresenta a artista Camila Rodríguez Triana em projeto individual que une tradição e contemporaneidade.

Camila Rodríguez Triana – A prática artística da colombiana Camila nasce de uma busca por suas origens, explorando mitos, cosmovisões e rituais da cultura Mhuysqa.

Crédito: cortesia Casas Riegner (Bogotá)/Foto: Nicolás Jacob

Essas tradições ancestrais inspiram sua reflexão sobre a relação entre ser humano e natureza, reinterpretada por meio de uma linguagem visual contemporânea. Temas como identidade, descolonização, memória e território são pilares de seu trabalho atual. Para a artista, “lembrar é caminhar pela terra com os pés e trabalhar com as mãos”, resgatando saberes ancestrais negados pela história.

Na ArPa, a artista apresenta obras que utilizam técnicas tradicionais, como ourivesaria, tecelagem e bordado, questionando o que ocupa o espaço aparentemente vazio. Seus trabalhos recentes desafiam os limites sensoriais, traduzindo em fios padrões geométricos de corpos celestes, gotas d’água em espiral e reflexos de luz — elementos que ecoam a lei da fractalidade.

FORMATOCOMODO (Espanha)
A galeria apresenta, da artista multidisciplinar Ventura Profana, a série de vídeos inéditos Raiz quadrada de sete, obra que questiona a colonização espacial em série. Composto por quatro vídeos que misturam imagens de satélites espaciais com reflexões sobre existência, memória e tecnologia, o trabalho desestabiliza a lógica da representação, tratando a exploração espacial como um projeto humano que, em sua visão, se assemelha a ruínas de uma civilização alienígena extinta. A série parte de fotografias oficiais de agências espaciais, reorganizando-as em colagens que desafiam narrativas lineares.

Obra de Ventura Profana. Cortesia: FORMATOCOMODO

A mostra inclui os vídeos A maior obra de saneamento (2024), que aborda a morte como recomeço; O poder da trava que ora (2021), com cenas que mesclam o exercício da oração ao erotismo; Procure vir antes do inverno (2021), um diálogo a da artista com sua avó sobre as dificuldades de escolher um caminho religioso; e Para ver as meninas e nada mais nos braços (2024), celebração do amor, da vida e da existência travesti. Ventura Profana, que também é pastora, cantora e escritora, articula em sua obra questões trans, negras e indígenas, propondo o que chama de “teologia da transmutação”.

Lima Galeria (São Luís)
Apresenta a produção recente de Gabriel Archanjo, artista piauiense que desde os anos 1990 investiga a cultura e os desafios do povo brasileiro. Sua série mais recente, em pequenos formatos, revisita retratos de mulheres de seu núcleo familiar, pintados em lenços brancos – objetos carregados de afeto. Essas obras, de composição fluida e por vezes difusa, refletem sua pesquisa sobre memória pessoal e coletiva.

Gabriel Archanjo, Amizade – 1,32 x 1,11 cm, acrílico sobre tela (2025). Cortesia: Lima Galeria

A partir de 2023, seu trabalho ganhou nova dimensão ao ilustrar o filme A Carta de Esperança, sobre Esperança Garcia – escravizada no século XVIII que se tornou símbolo de resistência ao denunciar maus-tratos em uma carta ao governador do Piauí. Sem registros visuais da figura histórica, Archanjo expandiu sua série Icono, conectando retratos de mulheres contemporâneas (familiares e de seu entorno) com essa ancestralidade. Apesar do foco no retrato, sua produção também inclui cenas surrealistas, onde figuras negras e indígenas interagem com elementos simbólicos, como trechos bíblicos flutuantes, criticando a influência cristã na supressão de outras tradições culturais.

Tecnicamente, Archanjo trabalha com composições pontilhísticas e áreas fluidas, onde silhuetas emergem fundidas ao fundo. Seus personagens, muitas vezes melancólicos ou inseridos em relações misteriosas, tornam-se protagonistas de narrativas que misturam o cotidiano com questões históricas. A Lima Galeria destaca como o artista, com gestos delicados, constrói uma obra politicamente engajada, revelando tanto as marcas da opressão quanto a resistência presente na formação social brasileira.

O Setor UNI também contará com projetos das galerias e dos artistas:

  • Campeche (México) | Alicia Ayanegui (México)
  • Central Galeria (Brasil) | Carmézia Emiliano (Brasil)
  • Constitución (Argentina) | Antonio Villa (Argentina)
  • OMR (México) | Ad Minoliti (Argentina)
  • Galleria Continua (Brasil) | Laercio Redondo (Brasil)
  • Luciana Caravello Galeria de Arte (Brasil) | Rafael Prado (Brasil)
  • Marli Matsumoto Arte Contemporânea (Brasil) | Mayana Redin (Brasil)
  • Quadra (Brasil) | Ana Cláudia Almeida (Brasil)
  • Ruth Benzacar Galería de Arte (Argentina) | Florencia Rodrigues Giles (Argentina)

Setor Principal

Albuquerque Contemporânea (Belo Horizonte)
Apresenta as artistas Dyana Santos e Chris Tigra em um diálogo entre memória material e ativismo ecológico.

Dyana Santos – Natural de Contagem (MG), Dyana desenvolve uma pesquisa singular em linguagens tridimensionais que partem das medidas anatômicas de seu próprio corpo. Suas instalações, esculturas vestíveis e objetos em metal aplicam técnicas ancestrais de metalurgia e costura sobre chapas de aço e cobre, criando uma poética poderosa sobre colonialidade e memória.

Obras de Chris Tigra  (à esq.) e Dyana Santos  (à dir.). Cortesia: Albuquerque Contemporânea

Chris Tigra – Artista multimídia paulistana radicada em Belo Horizonte, Chris trabalha na intersecção entre imagem, som e intervenção urbana. Seu projeto Maldição do Ouro documenta em fotografias e instalação têxtil os impactos da mineração ilegal na Amazônia peruana. Utilizando uma bateia de ouro transformada em objeto artístico com linhas vermelhas que simulam derramamentos de mercúrio, a obra denuncia a devastação ambiental enquanto propõe ressignificações poéticas. Chris também apresenta a série Recostura, onde intervenções em roupas usadas tornam-se metáforas para cicatrização social, em que investiga a memória do país partindo de imagens de acervo e fotografias dos séculos passados, num jogo entre relações coloniais e pós-coloniais.

Almeida & Dale (São Paulo)
Apresenta um duo potente com Lais Myrrha e Vivian Caccuri, explorando sistemas de poder e percepção sensorial. A apresentação na feira compreende obras da série Céu de Brasília, de Myrrha — iniciada em 2023 e apresentada pela primeira vez na individual Fundamentos da Pedra, em São Paulo, no mesmo ano — e peças da série Sonograma, uma das mais longevas da carreira de Vivian Caccuri, na qual a representação gráfica de sons é transformada pela gestualidade da artista.

Lais Myrrha – A artista mineira aborda os instrumentos que mediam a ocupação do espaço e a legitimação da história oficial, evidenciando a relação entre os locais físico e simbólico e destacando o caráter arbitrário dos discursos de poder que as convenções e sistemas de representação denotam.

Obras de Lais Myrrha (à esq.) e Vivian Caccuri (à dir.). Cortesia: Almeida&Dale

Vivian Caccuri – A paulistana Vivian investiga culturas musicais e produções sonoras em sentido amplo, propondo experimentos com o som que ultrapassam o campo auditivo e abarcam o visual, o corpóreo e o tecnológico, criando situações que desorientam a experiência cotidiana e interrompem percepções sedimentadas na cultura e nas estruturas cognitivas.

A aproximação de trabalhos que resultam de pesquisas tão distintas revela uma vocação partilhada por ambos para confrontar objetos que extrapolam a escala do corpo individual e têm um papel na determinação da experiência coletiva. As esculturas, objetos e instalações, presentes na produção das duas artistas, são veículos para reflexões sobre os agentes — dos mais concretos aos mais imperceptíveis — que influenciam o curso da história e os comportamentos individuais e sociais.

No conjunto, as obras partilham, ainda, de superfícies cruzadas por linhas. São malhas que remetem ao canteiro de obras, ao plano quadriculado e ao grid moderno, signos analisados, tensionados e desafiados pelas artistas.

Aninat + COTT (Chile e Argentina)
Apresenta um solo show da artista argentina Lucila Gradín, que há mais de uma década investiga as qualidades tintoriais e curativas das plantas nativas.

Lucila Gradín – Nascida na Patagônia argentina, Lucila desenvolve há mais de uma década uma pesquisa pioneira sobre as propriedades tintoriais e medicinais de plantas nativas. Tem trabalhado junto a homeopatas, curandeiras e filósofas para recuperar saberes e, ao descobrir que as plantas curativas também são tintoriais, passou a conceber a cor como uma onda expansiva de saúde e conhecimento.

A artista explora as capacidades tintoriais do Pau-Brasil e do Pau de Campeche, árvores que foram intensamente exploradas durante o período colonial pela indústria têxtil europeia. Imaginando um diálogo cúmplice com essas plantas por meio de diversas peças têxteis, Lucila oferece um olhar poético sobre episódios pouco estudados, mas fundamentais para compreender o impacto do extrativismo na América Latina. Como escreve Florencia Portocarrero, “sua obra propõe uma forma de arte interespecífica, onde a cor vegetal se torna uma linguagem sensível, política e ecológica”.

Carmo Johnson Projects (São Paulo)
Apresenta em seu projeto para a ArPa 2025 duas artistas que desenham sua vida e seu caminho na arte contemporânea por meio do barro e do fio, dois elementos que se encontram nos mitos de diferentes culturas sobre a origem da vida.

Kássia Borges – Artista indígena Karajá de Goiânia, Kássia olha para a natureza como inspiração de forma e conteúdo, utilizando seu conhecimento tradicional de ceramista para falar através do barro sobre sua própria experiência de vida. O primeiro trabalho de Kássia no contexto da arte contemporânea são espécies de potes que levam os nomes de seus três filhos. Desde então, o trabalho da artista acompanha seus movimentos da vida, ora dialogando com suas relações familiares, ora com sua dinâmica profissional.

Obras de Kássia Borges (à esq.) e Nara Guichon (à dir.). Cortesia: Carmo Johnson Projects

Nara Guichon – A artista gaúcha apresenta esculturas têxteis feitas com redes de pesca descartadas, coletadas em praias brasileiras. Suas obras carregam formas orgânicas que lembram seres marinhos prestes a ganhar vida em forma de costuras e teares. Nara Guichon tece uma possibilidade de futuro através das tramas, nós e amarrações que realiza com as redes, fazendo da arte uma ferramenta de resistência e fruição estética.

Casa Triângulo (São Paulo)
Apresenta o diálogo entre as obras do argentino Max Gómez Canle e as da brasileira transvisual Rafael Chavez.

Obras de Rafael Chavez (à esq.) e Max Gómez Canle  (abaixo). Cortesia: Casa Triângulo

Max Gómez Canle – O artista argentino reflete sobre a paisagem e sua representação na série La Tregua del Água, em que examina poças d’água por meio de pinturas e anotações, borrando a distinção entre homem e natureza nas pinturas de paisagem nas quais, tradicionalmente, os humanos atuam como espectadores e a paisagem é organizada matematicamente por meio da perspectiva.

Rafael Chavez – As obras de Rafael transcendem a simples representação visual, explorando interseções entre corpo, paisagem, espiritualidade e território. Sua produção celebra a vitalidade do sertão nordestino e as dinâmicas da vida sertaneja e da caatinga, que impregnam seu processo de pesquisa artística.

Coral Gallery (Estados Unidos)
Inédita na feira, a galeria apresenta o projeto Narrativas Abstratas/Convergência: Forma e Cor com três grandes nomes da arte contemporânea latino-americana. A exposição reúne obras dos argentinos Chiara Baccanelli Eduardo Mac Entyre (1929-2014) e do uruguaio Roberto Vivo, explorando a intersecção entre geometria, relações espaciais e transformação orgânica.

Concebida como um diálogo entre as distintas abordagens dos artistas — que abrangem desde estudos abstratos e arte geométrica generativa até esculturas orgânicas —, a mostra enfatiza os temas comuns que permeiam suas obras: movimento, metamorfose e design. Através de pinturas e esculturas, os artistas investigam a interação entre forma, luz e cor, fundindo precisão matemática, simbolismo e intuição. A mostra convida o público a refletir sobre como ritmo e luz moldam nossa percepção.

Obras de Chiara Baccanell (à esq.) e Roberto Vivo (à dir.). Cortesia: Coral Gallery

O espaço expositivo foi concebido para fluir entre a geometria estruturada de Mac Entyre, a abstração espacial de Baccanelli e as formas orgânicas de Vivo, criando uma tensão entre ordem humana e padrões naturais. Enquanto Mac Entyre trabalha com precisão matemática e Vivo com formas fluidas inspiradas na natureza, Baccanelli media esses extremos, explorando cor e harmonia. O resultado é uma experiência visual dinâmica, onde obras distintas se complementam em uma investigação unificada sobre espaço, cor e forma.

Danielian Galeria (Rio de Janeiro)
Dedica seu espaço à obra do artista moderno paulistano Newton Rezende (1912-1994) em mostra histórica.

Newton Rezende – Trouxe para sua pintura a linguagem gráfica desenvolvida em sua carreira como diretor de arte e publicitário. Sua obra, marcada pelo domínio técnico do desenho, mescla influências expressionistas e um lirismo próximo ao de Chagall, transcendendo o estilo naif ao criar composições que condensam tempos e espaços diversos, entre o real e o imaginário. Com uma base desenhística sólida, suas pinturas simplificam volumes e distorcem anatomias, desafiando convenções de representação.

Newton Rezende, Barcaça Mixta – Óleo sobre tela (1984). Cortesia: Danielian Galeria

Em suas obras, Newton empregava cores vibrantes e técnicas variadas, como colagem, tipografia e entalhe, criando cenas dinâmicas e repletas de simbologia. Seus temas eram amplos, abordando desde afetos pessoais e sexualidade até questões sociais e políticas. Através de figuras condutoras (Leitmotiven), ele transformava impressões intuitivas do mundo em uma realidade pictórica singular, onde o desenho servia como estrutura para sua narrativa visual.

Fortes D’Aloia & Gabriel (Rio de Janeiro e São Paulo)
Destaca a produção recente de Tatiana Chalhoub em apresentação solo que marca uma expansão em seu repertório  por meio do desdobramento de suas investigações em pintura, ampliando  a zona de contato entre procedimentos pictóricos e técnicas de cerâmica.

Obra de Tatiana Chalhoub. Cortesia: Fortes D’Aloia & Gabriel

Em trabalhos que transitam entre pequenos “buquês” de fragmentos cerâmicos e grandes pinturas de paisagens naturais, onde árvores, bosques e folhagens se entrelaçam, a produção de Tatiana cria relevos com superfícies acidentadas ou fragmentadas, e manchas de pigmento em esmaltes ou oxidados ganham contornos que sugerem paisagens ou naturezas-mortas, fundindo imagem e matéria de forma orgânica.

Tatiana reinterpreta a natureza e a história da arte a partir de peças soltas, fragmentos e resíduos processados em seu ateliê. Suas composições, marcadas por tons líquidos e aquáticos, abraçam o acaso e os acidentes do processo criativo. As obras suspendem-se entre ícones e atmosferas em pequena escala, revelando uma pesquisa pictórica que transforma quebras e desvios em soluções visuais únicas.

Galeria Frente (São Paulo)
A Galeria Frente apresenta na ArPa 2025 a exposição Tramas da Memória, com obras de Genaro de Carvalho Norberto Nicola, dois pioneiros da arte têxtil no Brasil. A mostra propõe um diálogo entre tradição e inovação, celebrando o tecido como suporte de memória, identidade e resistência cultural.

Em um momento em que práticas ancestrais ganham renovado valor no campo da arte, Tramas da Memória convida o público a refletir sobre o papel da tapeçaria na formação de uma linguagem contemporânea enraizada no sensível, no simbólico e no coletivo. Genaro, ao fundar o primeiro ateliê de tapeçaria do Brasil, valorizou os saberes locais e inseriu a cultura baiana na arte moderna. Nicola, por sua vez, ampliou os limites do têxtil, criando formas tridimensionais e poéticas que aproximam arte, natureza e ritual.

Exposição Tramas da Memória, com obras de Genaro de Carvalho e Norberto Nicola.

Cortesia: Galeria Frente

A curadoria de Acácio Lisboa propõe um percurso imersivo, em que textura, cor e matéria conduzem o visitante por tramas que falam de pertencimento, espiritualidade e renovação. No estande da Galeria Frente, o público será convidado a experienciar a tapeçaria como arte viva — entre o passado e o presente, entre o fazer manual e o pensamento artístico.

Tramas da Memória é, acima de tudo, um convite à escuta: das fibras, dos gestos, das histórias que o têxtil carrega e continua a tecer no imaginário coletivo brasileiro.

Galeria Leme (São Paulo)
A Galeria Leme e o artista Tiago Sant’Ana lançarão o livro ITUTU durante a ArPa 2025 no dia 30 de maio, às 18h, no estande da galeria. A publicação reúne 40 desenhos feitos pelo artista com lápis de cor azul cobalto sobre papel de algodão de alta gramatura, explorando temas como memória afrodiaspórica, dignidade e descanso da população negra. O livro tem formato e textura próximos aos dos originais, buscando proporcionar uma experiência tátil ao leitor.

Livro “ITUTU”, de Tiago Sant’Ana. Cortesia: Galeria Leme.

A obra inclui textos do curador Renato Menezes e do artista David Batchelor, ampliando a discussão sobre arte e cultura visual. ITUTU marca a primeira publicação solo de Sant’Ana e terá toda a renda das vendas destinada à Associação Cultural Acervo da Laje, instituição de Salvador dedicada à preservação da memória artística local. O artista estará presente no lançamento para sessão de autógrafos.

Galeria MaPa (São Paulo)
Apresenta exposição inédita que reúne as obras das irmãs Ismênia Coaracy (1918-2022) e Jandyra Waters (1921-2025), duas importantes artistas brasileiras do século XX.

Obras de Ismênia Coaracy (à esq.) e Jandyra Waters (à dir.). Cortesia: Galeria MaPa

A mostra apresenta pinturas selecionadas – algumas nunca exibidas antes – que transitam entre abstração geométrica-orgânica e figuração expressionista, criando um diálogo entre o rigor formal de Jandyra e a liberdade gestual de Ismênia. A curadoria destaca as ressonâncias e contrastes entre suas produções distintas.

Jandyra Waters, conhecida por seu trabalho discreto mas consistente, desenvolveu uma obra geométrica de cores sofisticadas e formas fluidas, com composições que sugerem arquiteturas simbólicas e paisagens interiores. Recentemente redescoberta, teve obras adquiridas por importantes instituições como MASP, Pinacoteca de São Paulo e MAC-USP, muitas delas através da mediação da Galeria MaPa. Já Ismênia Coaracy seguiu um caminho mais expressionista, com pinturas que misturam realismo fantástico, colagem e figuras em transformação, criando narrativas entre o sonho e a memória. Suas obras também foram incorporadas aos acervos do MASP e da Pinacoteca.

Embora compartilhem uma origem comum e trajetórias que correram em paralelo, Ismênia e Jandyra construíram caminhos estéticos distintos — sejam no engajamento com os sistemas de arte e nas poéticas que cultivaram. Justamente por isso, o encontro entre suas obras nesta exposição ganha potência simbólica e histórica: é um gesto de reparação e também de revelação. Esse diálogo inédito entre suas produções propõe ao público uma abordagem de formas e sensibilidades que compartilham o desejo de dar corpo ao indizível. No equilíbrio geométrico de Jandyra ou na figuração latente de Ismênia, ambas conduzem o olhar por territórios onde o sagrado, a memória e o inconsciente se insinuam como vislumbres do que escapa à razão.

Galeria Nonada (São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro)

Na ArPa Feira de Arte 2025, a Galeria Nonada leva ao público uma reencenação poderosa e inédita: a reprodução da exposição independente que o fotógrafo baiano Lazaro Roberto realizou em 1992 na Feira de São Joaquim, em Salvador. Trinta e três anos depois, esse gesto artístico e político ressurge em São Paulo, revelando um dos maiores acervos documentais da memória e resistência negra no Brasil.

Lazaro Roberto é um nome essencial na fotografia brasileira, especialmente por seu compromisso em registrar, com profunda sensibilidade, o cotidiano, a cultura e a espiritualidade do povo negro em Salvador. Em 1992, sem apoio institucional, o artista montou sua própria exposição entre as barracas da Feira de São Joaquim — um dos centros mais pulsantes da cultura afro-baiana. As imagens, fixadas em barbantes e penduradas entre sacos de farinha e peixes frescos, criavam um diálogo direto com o território e com os corpos que ele retratava. Esse trabalho permaneceu quase desconhecido por décadas — até agora.

Obras de Matheus Rocha Pitta (à esq.) e Lazaro Roberto (à dir.). Cortesia: Galeria Nonada

Na ArPa, o espaço da Galeria Nonada recria esse momento seminal, com um conjunto inédito de fotografias que nunca haviam sido mostradas em uma feira de arte. A curadoria respeita a montagem original, evocando a força do gesto de Lazaro Roberto e atualizando sua potência para os debates contemporâneos sobre território, memória e reparação.

Em diálogo com esse resgate histórico, o artista Matheus Rocha Pitta apresenta uma nova série de 12 máscaras. Conhecido por obras que articulam gesto, política e corpo, Rocha Pitta propõe uma leitura sobre identidade, anonimato e linguagem visual. As máscaras — objetos que ocultam e revelam ao mesmo tempo — se aproximam das imagens de Lazaro Roberto na medida em que ambas as obras investigam o que permanece e o que é apagado nas narrativas dominantes.

A justaposição desses dois trabalhos — separados por gerações e contextos, mas unidos por uma ética comum — transforma o estande da Nonada em um espaço de ativação da memória e de abertura para o futuro. A Galeria reafirma, assim, seu compromisso com práticas artísticas que desafiam os limites institucionais e ampliam os horizontes da arte contemporânea brasileira.

Kubikgallery (Portugal)
Apresenta um diálogo estimulante entre os artistas brasileiros Manuella Silveira Alexandre Canonico, explorando forma, textura e os limites da abstração por meio de linguagens e suportes distintos.

Alexandre Canonico parte do desenho para criar esculturas e instalações que exploram a relação entre representação e objeto real. Suas obras articulam linhas, vazios e formas abstratas com uma paleta material reduzida, destacando o processo de criação através de marcas gestuais.

Já Manuella Silveira trabalha principalmente com pintura a óleo sobre tela, utilizando camadas espessas de tinta que criam superfícies texturizadas. Sua produção oscila entre abstração e figuração, incorporando elementos cênicos como palcos e cortinas em composições que evocam um universo psicológico e onírico.

Apesar das diferenças em suas abordagens – Canonico com um traço mais contido e Silveira com gestos repetitivos e inesperados – ambos os artistas investigam o papel do gesto em suas obras. A exposição na Kubikgallery, na ArPa revela como esses dois percursos distintos dialogam ao explorar e relacionar questões fundamentais da arte contemporânea.

Obras de Manuella Silveira (à esq.) e Alexandre Canônico (à dir.). Cortesia: Kubikgallery

Matias Brotas (Vitória)
A galeria Matias Brotas participa da 4ª edição da ArPa com um estande que reúne obras inéditas dos artistas Mai-Britt WolthersThainan CastroClaudio Alvarez e Suzana Queiroga, destacando a diversidade da arte contemporânea brasileira e internacional.

Como parte da programação paralela, no dia 29 de maio será realizado o evento Experiência Arte, Moda e Arquitetura, com participação do artista Arthur Arnold e da designer Ana Luisa Fernandes, seguido por uma visita guiada à feira com Mai-Britt Wolthers. A iniciativa reforça o papel da galeria na formação de colecionadores e no fomento ao mercado de arte.

Entre os destaques estão as novas séries de Thainan Castro, artista radicado em Londres, que explora memória e afeto por meio do desenho; e as obras sensoriais da dinamarquesa radicada no Brasil Mai-Britt Wolthers, que transita entre pintura, escultura, gravura, instalação e vídeo.

Obras de Thainan Castro (à esq.) e Mai-Britt Wolthers (à dir.). Cortesia: Matias Brotas

O argentino Claudio Alvarez, também radicado no Brasil, apresenta peças inéditas de arte cinética, investigando movimento e percepção óptica, enquanto Suzana Queiroga, baseada em Portugal, exibe trabalhos que dialogam com temas como tempo e cartografia. Todos os artistas têm trajetórias consolidadas em instituições nacionais e internacionais.

Movimento (Rio de Janeiro)
A galeria destaca o artista tcheco Jan Kaláb, cuja trajetória evoluiu do grafite em Praga para o abstracionismo geométrico internacionalmente reconhecido.

Jan Kalab, Movimento –   50 x 50 cm (2024). Cortesia: Movimento

Jan é um dos principais nomes da arte contemporânea tcheca, pioneiro da cena de grafite e street art em Praga nos anos 1990, onde ficou conhecido como Cakes. Integrante do coletivo DSK, revolucionou a arte urbana europeia antes de expandir sua prática para esculturas, instalações luminosas, obras 3D, pinturas e NFTs. Seu estilo abstrato combina formas orgânicas e geométricas com cores vibrantes, criando composições que transitam entre pintura e escultura.

Realizou sua primeira exposição individual em 2008, migrando do espaço público para o circuito internacional de galerias. Sua obra, que explora perspectivas inéditas através de geometrias precisas e sobreposições de camadas, já foi exibida em importantes cidades como Nova York, Londres, Paris, Seul e Rio de Janeiro. Críticos destacam como suas criações evocam sensações de déjà vu, propondo novas dimensões visuais a partir de uma estética que equilibra rigor formal e experimentação.

OMA Galeria (São Bernardo do Campo)
A OMA Galeria participa da 4ª edição da ArPa com obras de Andrey RossiGiovani Caramello e Fábio Magalhães.

Giovani Caramello exibe a escultura Êxtase (2025), exemplar de seu hiper-realismo que captura estados emocionais transitórios. Autodidata que migrou da modelagem 3D para a escultura, Giovani cria figuras humanas que, embora específicas, funcionam como espelhos universais. Seu trabalho meticuloso em materiais sintéticos congela instantes de vulnerabilidade, transformando a impermanência humana em formas tangíveis.

Giovani Carammelo, Êxtase (2025) – Resina de poliuretano, tinta acrílica, PETG, tecido, 85x50x20cm.

Cortesia: Giovani Carammelo

Andrey Rossi apresenta duas pinturas a óleo que sintetizam sua investigação sobre as marcas do tempo: Entre a janela (2025) e Natureza-morta (2025). Trabalhando com pintura, desenho e assemblagem, o artista constrói cenários de ruínas minuciosas, onde rachaduras e objetos abandonados revelam narrativas sobre ausência e resistência. Suas obras, que transitam entre o belo e o decadente, exploram angústias contemporâneas através de espaços que carregam vestígios de vida interrompida.

Fábio Magalhães apresenta obras da série Guerra do soldado sem razão, incluindo a impactante tela Soldado, onde está seu propósito? — que mostra um soldado-brinquedo decapitado sobre fundo branco. Através de instalações e pinturas que tensionam o lúdico e o violento, o artista baiano critica a banalização dos conflitos contemporâneos. Seu trabalho, que opera entre o conceitual e o sensorial, expõe a fragilidade do indivíduo frente às máquinas de guerra sociais e políticas.

Obras de Kameelah Janan Rasheed (à esq.) e Guillermo García Cruz (à dir.). Cortesia: Piero Atchugarry Gallery

A exposição estabelece um diálogo entre controle e caos, questionando noções de perfeição. Kameelah expõe como a linguagem e os algoritmos falham em representar realidades marginalizadas, enquanto Guillermo traduz falhas tecnológicas (glitches) para o plano físico, refletindo sobre estruturas em colapso. Juntos, os artistas desafiam a ideia de progresso linear, encontrando poética nas imperfeições humanas e sistêmicas. Equações Imperfeitas convida o público a repensar a ordem imposta pela tecnologia e pela linguagem, destacando a beleza do imprevisível.

Simões de Assis (São Paulo, Curitiba e Balneário Camboriú)

A Simões de Assis participa da ArPa com um projeto solo dedicado a Gonçalo Ivo, artista amplamente reconhecido por sua pesquisa cromática e por uma pintura de rigor técnico e sensível elaboração formal. O estande apresenta um recorte abrangente de sua produção, conectando diferentes séries e suportes para evidenciar a contínua reinvenção de sua poética, centrada na relação entre cor, matéria e ritmo.

Referência no campo do colorismo contemporâneo, Ivo desenvolve obras com sutis interações cromáticas que produzem movimentos visuais envolventes e uma atmosfera de refinada alquimia. Utiliza técnicas como aquarela, têmpera e óleo, aplicadas com precisão sobre telas e superfícies de madeira, revelando composições que evocam paisagens interiores e vibrações abstratas.

Gonçalo Ivo, Sem Título (2025). Cortesia: Simões de Assis

Referência no campo do colorismo contemporâneo, Ivo desenvolve obras com sutis interações cromáticas que produzem movimentos visuais envolventes e uma atmosfera de refinada alquimia. Utiliza técnicas como aquarela, têmpera e óleo, aplicadas com precisão sobre telas e superfícies de madeira, revelando composições que evocam paisagens interiores e vibrações abstratas.

Yehudi Hollander-Pappi (São Paulo)
A Galeria Yehudi Hollander-Pappi apresenta os trabalhos dos artistas Adam Milner (Estados Unidos) e Stephanie Lucchese (Brasil), cada um explorando linguagens distintas em suportes como escultura, instalação, pintura e desenho.

Adam Milner trabalha com esculturas, instalações, textos e imagens, investigando objetos cotidianos e recontextualizando fragmentos da vida doméstica, de coleções pessoais e até do corpo. Seu processo envolve acumulação e reorganização de elementos do dia a dia — como hábitos de dormir, comer e se relacionar —, transformando-os em obras que questionam hierarquias e afetos materiais. Já Stephanie Lucchese dedica-se principalmente à pintura e ao desenho, criando cenas ficcionais onde formas orgânicas, frutos, plantas e figuras parecem fundir-se em movimento, sugerindo um tempo suspenso e uma dinâmica de transformação constante.

Zipper Galeria (São Paulo)
Em um momento de transformações aceleradas na sociedade, política, tecnologia e meio ambiente, a Galeria Zipper apresenta a exposição Véspera / Presságio, que propõe reflexões sobre o futuro: serão tempos de crise ou de reinvenção? A mostra reúne os artistas Ivan Grilo e Rodrigo Braga que, com linguagens distintas, exploram questões urgentes da contemporaneidade, da memória histórica à relação entre humanidade e natureza.

Ivan Grilo trabalha com esculturas, instalações e textos, muitas vezes materializados em placas de bronze, onde a escrita e a literatura desempenham um papel central. Sua pesquisa recupera histórias esquecidas da América Latina, misturando fatos, lendas e ficção para questionar narrativas oficiais. Com foco em temas como colonização e ditadura militar, sua obra reflete sobre como o tempo transforma estruturas físicas e simbólicas, desafiando noções de verdade histórica.

Já Rodrigo Braga investiga a relação entre ser humano e natureza, agora sob uma perspectiva fenomenológica, observando eventos naturais anteriores à presença humana e sua aceleração no Antropoceno. Em desenhos a carvão e pastel seco, ele recria paisagens de biomas brasileiros com um tom quase fantástico, entre a catástrofe e o renascimento. Sua obra sugere um presságio ambíguo, mesclando destruição e encantamento, numa reflexão sobre o que é essencial para a vida no planeta. A exposição convida o público a repensar o futuro através de duas visões poéticas e críticas.

O Setor Principal também contará com projetos das galerias e dos artistas:

  • Aura Galeria: Helô Sanvoy e Renan Telles
  • Calvaresi Contemporáneo + Isla Flotante: Valentim Demarco e Alfio Alfredo Spampinato
  • Galeria Karla Osorio: Pascal Hachem, Matheus Abu e Jonathan Vivacqua
  • Galeria Leme: Germana Monte-Mór e Marcia de Moraes
  • Galeria Leonardo Leal: José Guedes
  • Galeria Luis Maluf: Fernanda Pompermayer e Shizue Sakamoto
  • Galeria Lume: Marilá Dardot e Saulo Szabó
  • Galeria Marco Zero: Rayana Rayo e Juliana Lapa
  • Galeria Raquel Arnaud: Shirley Paes Leme e Julio Villani
  • Galería Sendros: Mauro Agustin Cruz e Itamar Harvati
  • Luisa Strina: Fernanda Gomes, Anna Maria Maiolino, Cinthia Marcelle e Brisa Noronha
  • Martins&Montero: João Loureiro e Hiram Latorre
  • Mendes Wood DM: Matthew Lutz-Kinoy e Luiz Roque
  • Mitre Galeria: Manauara Clandestina, Marcus Deusdedit e Gustavo Speridião
  • Nonada: Lázaro Roberto, Matheus Rocha Pitta e Cipriano
  • Nara Roesler: Monica Ventura
  • Pinakotheke: Oswaldo Goeldi
  • Sardenberg

Sobre a ArPa Feira de Arte

Desde 2022 a ArPa vem se consolidando como uma das principais feiras do circuito nacional e latino-americano por sua primorosa curadoria, infraestrutura de alta qualidade, localização central e icônica, programação paralela singular e autêntica, e a pluralidade de olhares dos curadores convidados que colaboram a cada edição. Nesta edição, A ArPa realiza um levantamento atualizado sobre dados de mercado. A Pesquisa ArPa 2025 será divulgada na semana de abertura da Feira.

SERVIÇO

ArPa Feira de Arte

Ingressos a partir de 16/04, no site oficial da ArPa.

Quando:  28 de maio a 1º de junho de 2025

Horário: quarta a sábado, das 13h às 20h | Domingo, das 11h às 18h 

Local: Mercado Livre Arena Pacaembu, em São Paulo 

Endereço: Rua Capivari (Portão 23) ou Praça Charles Miller

Classificação: Livre para todas as idades 

A ArPa conta com recursos de acessibilidade para pessoas com deficiência

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